Amor que não se mede
Com dinheiro do próprio bolso, engenheiro devolve a quase 50 crianças o direito de viver a própria infância em abrigo com assistentes sociais
Por: Fernanda Gualda
É fim de uma manhã de sexta-feira e o engenheiro Sancler Mello interrompe a
entrevista que concede à Folha do Bosque para ir à creche municipal Amor, no
Recreio dos Bandeirantes. Na sala da educadora, ouve atentamente a profissional
relatar sua preocupação com o comportamento de Rafaela (nome fictício). A
menina será alfabetizada no próximo ano e tem apresentado episódios de
agressividade. Ao fim da reunião, Sancler explica que vai conversar também com
as psicólogas que acompanham Rafaela. Vítima de abuso sexual dentro da própria
família, ela é uma das crianças atendidas pelo Centro de Integração Social Alan
de Mello – AMA abrigo (Cisam-AMA), presidido por Sancler, onde
moram 48 meninos e meninas. Sancler conta que as crianças chegam ao abrigo por
encaminhamento da Vara da Infância e da Juventude.
“E nós trabalhamos para que
sejam reintegradas às famílias de origem, às vezes com tios ou avós. Em alguns
casos, são adotadas por novas famílias”, diz ele, que passou a se dedicar
integralmente ao trabalho social depois que seu filho Alan de Mello teve a vida
interrompida por um ônibus que desrespeitou o sinal vermelho. O veículo atingiu
Alan, na época com 19 anos. “Aos 15, ele havia me pedido duas vacas de presente
e, quando perguntei o motivo, me respondeu que era para dar leite às crianças
pobres. Atendi ao pedido. Pouco tempo depois, Alan disse que as vacas não
bastavam: tinha de levar as crianças ao médico. Foi assim que esse trabalho
começou”. Após a morte de Alan, Sancler se desfez de seus negócios no ramo da
engenharia para se dedicar por completo ao trabalho social. “Construí um
patrimônio muito sólido ao longo de toda a minha vida e é isso que me
possibilita manter o trabalho que o Alan já havia iniciado”.
No AMA todas são acolhidas e conquistam de volta o direito de ser criança.
Além de contar com uma equipe que inclui assistentes sociais, psicólogas e
educadoras, o AMA também conta com voluntários, muitos da Barra. “Eles fazem
atividades de leitura, brincadeira e reforço com as crianças. Por meio de
mutirão ajudam na organização de vários setores do abrigo, são grandes
parceiros”, destaca a psicóloga do AMA, Érica Vidal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário